Gabriel

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Consórcio da Petrobras dá calote de R$ 100 milhões em fornecedores


Demissões, corte de custos, atrasos e brigas judiciais marcam construção de fábrica


Por: Correio do Estado


O Consórcio UFN3, que constrói a fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras, em Três Lagoas, deu um calote de pelo menos R$ 100 milhões nas empresas que prestam serviço na obra. Metade dessa dívida deve ser paga a empreendedores da cidade, que já sente a crise. Os credores afirmaram que demitiram empregados e estão cortando drasticamente os custos como meio de evitar a falência.

Os empresários buscam ajuda até da Câmara dos Vereadores, onde estiveram ontem à noite.

Wilson Turíbio, dono da WR Engenharia, representantes dos credores, destacou que a UFN3 deve para 133 empresários e que, embora tenha se comprometido em quitar o débito há uma semana, ao menos até ontem nenhum havia recebido nada.

“Não recebemos há mais de seis meses e o objetivo de estarmos aqui é tentarmos conseguir mais respaldo, pois temos sido obrigados a desfazer de propriedades para honrar nossas dívidas, que foram feitas contando com o recebimento do consórcio, porém, não sei até quando conseguiremos levar essa situação.

Estamos realmente muito preocupados com o que pode acontecer com os nossos negócios”, destacou. Turíbio disse ainda que vem recebendo suporte da prefeitura e da Associação do Comércio e da Indústria (ACI), que têm se reunido frequentemente com representantes da Petrobras, no Rio de Janeiro, para expor a situação que os empresários vêm enfrentando pela falta do pagamento.

“A Petrobras apresentou à prefeita Márcia Moura um cronograma de quitação de pelo menos 50% da dívida, mas já se passou mais de um mês e ainda não recebemos nada”, protestou o empreiteiro.

Outros empresários, que não quiseram ter a identificação publicada, por medo de sofrer retaliações e ficar ainda mais tempo sem receber da UFN3, falaram do drama que vêm enfrentando por conta da falta de pagamento.

Um empreendedor do setor de serviços elétricos disse que não recebe desde novembro do ano passado e que hoje o valor a ser recebido ultrapassa os R$ 700 mil. “Para conseguir manter minhas despesas, como o pagamento de funcionários, por exemplo, eu precisei vender dois carros da minha família. A minha sorte é que eu ainda tenho outra renda, mas conheço empresários que já fecharam suas portas por culpa dos atrasos da UFN3”, disse, destacando que, nos últimos meses, recebeu mais de 40 currículos de funcionários das prestadoras de serviços do consórcio que decretaram falência.

A dívida com um empresário do ramo de locação de maquinários é ainda maior.

A UFN3 deve R$ 5 milhões ao empreendedor, que já cogita vender alguns bens para não “quebrar”. “Fiz vários investimentos exclusivamente para atender o consórcio e, hoje, simplesmente, não consigo recuperar expressão ms nem o que eu investi”, disse.


O Correio do Estado conversou com um dos credores, que aceitou ver o nome publicado no jornal e disse que deve recorrer à Justiça para receber pelos contratos atrasados (ver mais na matéria ao lado).

Para uma empresa de alojamentos, a UFN3 deve R$ 600 mil. Embora o valor pareça irrisório perto das demais dívidas, a dona do negócio disse que, por ser de pequeno porte, sua empresa não possui capital para cobrir essa dívida. Ela teme ter de fechar o estabelecimento.

“Por enquanto eu sei que a demanda de operadores que utilizam nossos serviços será menor, por isso eu ainda não sei o que pode acontecer comigo se eu não receber o que me devem”, desabafou.

DESISTÊNCIA

A situação financeira instável da UFN3 passou a chamar a atenção quando, em maio deste ano, a empresa de locação de veículos Arildo Rent Car, de Maringá (PR), conseguiu na Justiça liminar para recolher os cerca de 100 veículos locados pelo consórcio sem que se caracterizasse quebra de contrato.

O motivo do recolhimento é que a UFN3 não honrava com os pagamentos mensais havia mais de cinco meses, segundo o dono da locadora de maquinário.

Na época, foram necessárias três carretas para levar os carros de volta para o Paraná. A dívida chegava a quase R$ 1 milhão.

“Essa medida drástica foi nosso último recurso, pois não tivemos êxito em negociar a dívida com o consórcio”, explicou o advogado da empresa, Waldemar de Moura Júnior.


O empresário Sérgio Fenelon, um dos prestadores de serviço do consórcio UFN3, acha improvável que 80% do empreendimento já esteja concluído e que até o primeiro semestre do ano que vem a unidade fique pronta, como afirmou a presidente da estatal mista, Maria da Graça Foster, anteontem, no Rio de Janeiro.

“Creio, sim, que 60% da obra esteja pronta, não acredito na estimativa da presidente”, afirmou Fenelon, que locava maquinário pesado ao consórcio, mas desistiu do negócio. O empresário disse ter retirado suas máquinas do canteiro de obra por falta de pagamento. Em abril passado, Fenelon liderou um manifesto para receber do consórcio, que havia deixado de pagar desde novembro passado.

A responsável pela obra prometeu acertar os atrasados, mas pagou apenas duas parcelas. “De lá para cá, não recebi mais nada, por isso tirei meus maquinários de lá”, afirmou. À época, dez empresas que locam maquinário para a construção da fábrica tinham R$ 8 milhões para receber.


Sérgio Fenelon disse ontem que, além de romper o contrato com o consórcio, pensa em levar a questão para a Justiça.

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